segunda-feira, 28 de maio de 2012

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E então, você se cansa. Sabe que não dá pra continuar mais desse jeito. Se cortar todas as noites, chorar mais e mais, já não adianta. Você também se cansou de não poder pedir ajuda, querer esconder tudo  aqui, guardar só pra você, chorar baixinho pra sua mãe não ouvir, já estava ficando insuportável. Então você espera todos dormirem, se tranca no seu quarto, a carta já está pronta e no final dela está escrito “Stay Strong”. A lâmina estava antiga, então você trocou por uma nova. Treinou algumas vezes na sua perna, e então começa a chorar, porque sabe isso não fará diferença nenhuma pra ninguém, e ao mesmo tempo sorri, porque sabe que toda dor, angustia, irá acabar. Você tinha a coragem ali, agora, a coragem que muitas vezes você não tinha. Você se senta na cama, se afasta um pouco da carta e começa a encarar a lâmina e sua veia, fecha os olhos de repente, e passa o objeto cortante por seu pulso com toda a força que tem. Seu sangue começa a escorrer por todo quarto, você fecha os olhos lentamente, e ali, fica apenas seu corpo, pois sua alma foi para outro lugar ser feliz. Mas isso não acaba aí.
Na manhã seguinte, seu pai e seu irmão precisam arrombar a porta de seu quarto enquanto sua mãe está aflita. Finalmente, eles conseguem, sua mãe corre até seu corpo e não conseguia acreditar no que estava vendo. Seu pai entra no banheiro, faz uns telefonemas e chora, chora muito, ele não queria aceitar que sua princesinha estava morta. Seu irmão mais velho vai para casa de um amigo maior de idade, chora muito, então esse ‘amigo’ lhe oferece drogas, e a culpa é tão grande por você ter se matado, que ele acaba aceitando as pedras e e o pó. No seu velório, sua melhor amiga abraça seu caixão e não quer deixar que lhe enterrem, ela não conseguia parar de chorar nem por 5 segundos. Seus pais não aguentaram permanecer ali. Já havia passado algumas horas que seu irmão havia usado as drogas e o efeito havia acabado, ele estava chorando loucamente abraçado de sua melhor amiga.
2 meses depois sua mãe só saia da cama pra comer e ir ao banheiro, já que sua morte a levou a depressão. Seu pai não falava com ninguém. Seu irmão estava em uma clinica de reabilitação para viciados. Sua melhor amiga se cortava, e havia tentado suicídio pelo menos umas 4 vezes. As garotas que te chamavam de gorda, feia, choravam sempre que mencionavam seu nome na chamada, ou olhavam pra mesa em que você sentava. Todos eles se culpavam. E você que não achava que faria falta, está fazendo uma falta imensa.
Um ano depois, sua mãe já estava bem melhor e até havia arranjado um emprego, seu pai estava mais feliz e havia sido promovido, seu irmão já estava curado, sua melhor amiga não tentava suicídio há muito tempo e nem se cortava mais. As coisas estavam se estabilizando, mas ninguém havia preenchido o vazio que você deixou no coração de cada um deles. Ninguém comentava mais de seu suicídio, mas ninguém havia se esquecido. Eles aprenderam da pior forma a se importar com as pessoas. Tiveram que lhe perder pra dar valor. Você sabia que havia errado, mas todos eles também.  (Marina Guerra)

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